Por que Taiwan é tão importante no mercado de chips e como uma interrupção na produção poderia afetar o mundo
Autor: g1 04/04/2024 04h00 – Atualizado há uma semana
Postagem: Eng. Elet. Vanderlei Felsiberti
Taiwan é um país crucial no mercado de chips devido à sua liderança na produção desses componentes essenciais para a indústria tecnológica mundial. Qualquer interrupção na produção em Taiwan pode ter um impacto significativo no fornecimento global de chips e potencialmente afetar várias indústrias em todo o mundo. O recente incidente que resultou em danos em algumas unidades de fabricação ressalta a importância de garantir a continuidade da produção de chips em Taiwan para evitar atrasos e prejuízos financeiros consideráveis.
País asiático atingido por terremoto na última quarta-feira (3/4/2024) produz 90% dos semicondutores mais avançados do planeta. Seus clientes são big techs, montadoras e indústrias de todo o mundo.
Os Estados Unidos concentram as principais empresas de tecnologia do mundo, como Apple, Amazon e Microsoft. Mas o “coração” dos produtos dessas e de muitas outras companhias, o chip, é produzido principalmente em um lugar bem longe dali: Taiwan.
Na última quarta-feira (3), o país asiático foi atingido pelo terremoto mais forte registrado lá em 25 anos, e fábricas de chips chegaram a paralisar algumas operações ao longo do dia para avaliar os impactos. Os primeiros relatos são de que não houve danos graves.
Mas o tremor levantou a preocupação sobre como um desastre natural poderia desestabilizar o fornecimento desses componentes e causar um baque ainda maior do que a recente “crise dos chips”, que atingiu a indústria entre 2020 e 2023 e freou até a produção de carros.
Afinal, o que é um chip? É um componente muito pequeno, feito de material semicondutor, principalmente o silício (encontrado na areia). O chip contém um circuito eletrônico e é considerado semicondutor porque deixa passar menos eletricidade do que o cobre, por exemplo, mas não chega a ser um isolante.
Fazendo a eletricidade passar e parar de passar, os chips permitem, por exemplo, que aparelhos eletrônicos executem comandos ao apertar de um botão ou que dados sejam armazenados, entre muitas funções.
Quem depende dos chips: não é só celular que tem chip ele está no cartão do banco, nas geladeiras, nas máquinas de lavar, em lâmpadas de LED, nos aviões.
Nos carros atuais, são usados milhares de chips em diversos sistemas, como computador de bordo, gerenciamento do motor e controle de navegação.
Por que Taiwan domina: os EUA inventaram o chip, mas hoje o país asiático produz 90% dos modelos mais avançados usados no mundo. Inclusive aqueles necessários para desenvolver inteligência artificial, que são bastante sofisticados.
Taiwan investiu no ramo a partir dos anos 70, deixando de ser uma região conhecida pela produção agrícola e se transformando no centro de exportação dos chips mais avançados do mundo.
A maior companhia do setor em todo o mundo fica lá. Fundada em 1987, a Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC) fornece componentes para clientes como a Apple, criadora do iPhone, e a Nvidia, que se tornou uma das empresas mais valiosas do mundo graças ao desenvolvimento de chips mais complexos, aqueles usados para inteligência artificial.
“Praticamente todo celular, a maioria dos computadores e qualquer banco de dados do mundo tem chips produzidos pela TSMC e só ela é capaz de produzir. 90% dos chips de processamento mais avançados do planeta saem de lá”, diz Chris Miller, historiador e autor de “A Guerra dos Chips”.
O império da TSMC inclui nove fábricas em Taiwan. A empresa também está construindo uma unidade no Japão e pretende ter outras nos EUA e na Alemanha. Ela emprega 73 mil pessoas, de acordo com a “Forbes”.
Segundo o “The New York Times”, a Coreia do Sul , onde fica a Samsung, está logo atrás de Taiwan no “poder” de fabricação de chips. Só que os semicondutores taiwaneses ainda são menores e mais rápidos que os sul-coreanos.
O domínio de Taiwan causou até uma crise política com os EUA, que, por meio de sanções, “proibiram” o país de exportar a tecnologia para a China, alegando que os chineses querem desenvolver armas táticas de guerra.
O que acontece se a produção de chips parar?
O mercado de chips já vive uma crise e impacta várias empresas de diferentes setores. Uma possível paralização poderia agravar o cenário.
A pandemia de corona vírus impulsionou a venda de dispositivos eletrônicos para as pessoas trabalharem em casa, lembra? Ao mesmo tempo, a indústria automotiva reduziu a demanda por chips no início da pandemia, mas voltou com força no final de 2020.
No entanto, as montadoras sentiram dificuldade para conseguir os semicondutores que necessitavam inclusive modelos mais simples de chips. Em 2022, várias fabricantes pararam e deixaram de produzir veículos devido à falta deles.
Um levantamento da consultoria Gartner divulgado em 2021 indicou que a escassez também atrasou o lançamento e a oferta de celulares.
O que dizem as principais empresas
De acordo com a agência Reuters, a TSMC disse que suspendeu o trabalho temporariamente em suas fábricas após o terremoto para avaliar os impactos.
Ainda nesta quarta, em nota enviada à agência NPR, informou que apenas “um pequeno número de equipamentos foi danificado, em certas unidades”, impactando parcialmente as operações. “Em todo caso, não houve prejuízo em ferramentas essenciais”, afirmou a empresa.
A United Microelectronics Corp (UMC), rival da TSMC no país, disse que todos os funcionários estavam seguros e que suas fábricas funcionavam normalmente na última quarta, ainda segundo informações da Reuters. Algumas máquinas foram desligadas, mas a empresa trabalhava para reiniciá-las.
A NPR apontou que, considerando o volume de produção concentrado no país, analistas de mercado dizem que, mesmo interrupções mínimas podem atrasar o envio da produção e gerar prejuízos de milhões de dólares.