Carros elétricos e a segurança contra incêndios preocupa especialistas.
No Brasil, a preocupação com a segurança contra incêndios em carros elétricos ainda é incipiente. Porém, no Reino Unido, um relatório da British Parking Association revelou que esses veículos podem representar um desafio para algumas garagens mais antigas, que podem não ser suficientemente fortes para suportar seu peso adicional. O engenheiro estrutural Chris Whapples alertou que há o risco de colapso de alguns estacionamentos em más condições.
Fonte: https://minaspetro.com.br/ em 17/04/2024
Postagem: Eng. Elet. Vanderlei Felisberti
O crescente uso de carros elétricos traz consigo novas preocupações, principalmente em relação à segurança contra incêndios. As baterias de íon-lítio, utilizadas nesses veículos, apresentam características que exigem medidas específicas para prevenir e controlar incêndios em ambientes como garagens de condomínios.
Em São Paulo, o Corpo de Bombeiros propôs uma série de normas para recarga de veículos elétricos em condomínios residenciais e comerciais. As medidas incluem instalar ventiladores, sensores de calor, chuveiros automáticos e pontos de desligamento das baterias. O objetivo é minimizar os riscos de incêndio e facilitar o combate a eventuais ocorrências.
Especialistas divergem sobre o tema.
Especialistas em veículos elétricos divergem sobre a necessidade e a rigidez das medidas propostas. Alguns defendem a necessidade de normas rigorosas, enquanto outros as consideram exageradas. O debate gira em torno da proporcionalidade dos riscos e da necessidade de encontrar um equilíbrio entre segurança e viabilidade econômica.
“Se você analisar os carros a combustão, tem um tanque de combustível neles, mas que são difíceis de causar um desastre porque já estão maduros. Quando falamos de carros elétricos, estamos na infância deles. Então, as coisas precisam evoluir. Não sabemos ainda se as estruturas elétricas dos prédios estão devidamente adequadas, preparadas para abrigar esse tipo de veículo”, avalia Cássio Pagliarini, especialista em carros elétricos e CSO da Bright Consulting.
“A bateria dos carros elétricos, ela queima o ar e queima água. Então, se o extintor for só à base de água, ela pode pegar mais fogo ainda porque o lítio reage com a água, formando um hidróxido e elimina hidrogênio, que pega fogo, e faz o incêndio mais forte ainda”, explica Pagliarini.
Ricardo Bastos, presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), considera ser importante haver espaço para apresentar propostas ao Corpo de Bombeiros de São Paulo nesta fase, mas a associação sugerirá mudanças em pontos que considera exagerados.
“Não há necessidade de construir muros, parece que se está lidando com algo do qual não se tem conhecimento. Esses automóveis são equipados com controles de carga e de temperatura das baterias, e não temos registros de incêndio de carros elétricos no Brasil”, diz o executivo.
Para o consultor da Bright, a proposta de normatização de vagas para carros elétricos em condomínios em São Paulo é rigorosa, mas não seria exagerada. “Se você parte do princípio que um carro elétrico pode pegar fogo, a necessidade é aquela que está nas normas (propostas pelo Corpo de Bombeiros de São Paulo)”, justifica Pagliarini.
“Todo mundo no setor automotivo está discutindo essa proposta de normatização porque pode tornar inviável mesmo em um prédio grande, com apartamentos de luxo, que tenham carros mais caros, que podem ter veículos elétricos recarregando junto a veículos a combustão convencionais na garagem”, complementa.
Risco maior em subsolos.
Se o pior acontecer, a situação é especialmente preocupante em garagens, como alerta o arquiteto Paulo de Tarso Souza, com mais de 20 anos de experiência com edificações. “Se há um incêndio dentro do estacionamento subterrâneo de um prédio, não há veículo de socorro que consiga entrar”, afirma. “É necessário que façam normas para garantir alguma proteção, e o subsolo é sempre mais complicado.”
Em nota, o Corpo de Bombeiros de SP ressalta que as propostas que constam na minuta ainda podem passar por mudanças. “Este é o objetivo de se colocar uma norma para consulta pública, para que toda a sociedade possa, primeiramente, tomar conhecimento sobre o assunto, que ainda é desconhecido”, declarou.
Minas Gerais avalia medidas.
Em Minas Gerais, o Corpo de Bombeiros avalia as normas propostas em São Paulo e ainda não definiu sua posição oficial. O órgão reconhece a necessidade de medidas de segurança para carros elétricos, mas busca um equilíbrio entre proteção contra incêndios e viabilidade para os condomínios.
O documento considera que a instalação de pontos de carregamento de carros elétricos configura como um risco especial adicional à edificação e aconselha que tais estações sejam executadas preferencialmente em áreas externas.
A exemplo das normas propostas por São Paulo, os Bombeiros de Minas já orientam haver um distanciamento mínimo de 5 m separando cada uma das vagas que possuem ponto de carregamento das demais vagas (com ou sem ponto de carregamento) e de locais com carga de incêndio ou áreas de risco.
Tal distância também pode ser substituída por paredes corta-fogo capaz de suportar até 60 minutos de incêndio com 1,60 m de altura por 5 m de comprimento. Outra recomendação é que haja extintor de incêndio tipo pó ABC, localizado a 5 m de distância dos pontos de carregamento.
“Caso o ponto de carregamento se encontre em área interna e coberta de edificação, em que haja dificuldade na extração da fumaça de um eventual incêndio, o projeto de prevenção e combate a incêndio deverá ser encaminhado para apreciação de comissão de corpo técnico, a qual definirá as medidas de segurança a serem implementadas”, declara a corporação mineira.
Capacidade das garagens é ponto crítico.
Outro desafio é a capacidade das garagens de condomínios de suportar o peso extra dos carros elétricos. As baterias pesadas desses veículos aumentam significativamente a carga sobre as estruturas, o que pode levar a problemas de segurança.
Com baterias ainda extremamente pesadas, esse tipo de veículo pesa, em média, 1,3 vezes mais que os automóveis com motor a combustão. Para ser te uma ideia, o subcompacto elétrico BYD Dolphin Mini, recém-lançado no Brasil, pesa 1.568 kg, mais que o dobro um Renault Kwid com motor 1.0 flex, que tem 779 kg.
“Até agora, ninguém se preocupou muito com isso. O fato é que os elétricos pesam 1,5 tonelada e meia, 2 toneladas, daí para mais. E isso precisa ser mais discutido. Dependendo da forma como foi construído, nem precisa ser numa garagem, você pode ter acidente sérios”, alerta Pagliarini, citando um caso recente ocorrido na China, em que parte do estacionamento de um shopping entrou em colapso pelo excesso de carros elétricos estacionados no local.
Relatório no Reino Unido.
Enquanto no Brasil, tal preocupação ainda é bem incipiente, no Reino Unido, um relatório da British Parking Association, algo como a associação dos donos de estacionamentos no país, constatou que os carros elétricos são mesmo muito pesados para algumas garagens projetadas para carros menores e mais leves.
O documento aponta que várias garagens construídas nas décadas de 1960 e 1970 podem não ser resistentes o suficiente para suportar o peso adicional dos elétricos. “Não quero ser alarmista, mas existe definitivamente a possibilidade de colapso de alguns dos primeiros estacionamentos em más condições”, declarou o engenheiro estrutural Chris Whapples, ao jornal The Telegraph.